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16 de maio de 2011

"Let's do it" - Estônia limpou seu lixo num dia, e nós? LIMPA BRASIL

 

Como as coisas começaram
          Em 2008, o homem mais inovador da Estônia foi Rainer Nõlvak, empreendedor e visionário que teve a ideia de fazer a campanha de limpeza nacional Let’s Do It.
          Com cerca de 10 mil toneladas de lixo ilegal espalhado por toda a Estônia, Rainer e seu grupo tiveram o plano ambicioso de limpar tudo em um dia. Foram 50 mil voluntários para limpar todos os espaços públicos, em especial florestas e áreas próximas de estradas. Mais de 40 empresas de limpeza apoiaram a iniciativa fornecendo os containers necessários e também os veículos de transporte. O projeto teve como meta reciclar 80% de todo o lixo coletado.
          Isso não seria possível sem o uso de tecnologia. Ahti Heinla, um dos fundadores do
Skype (empresa inventada na Estônia), ajudou a mapear o lixo. O Google Earth foi utilizado junto com um software que permitia voluntários fotografar as áreas de lixo e apontar onde seria necessário o trabalho voluntário.

O trecho acima foi retirado de um depoimento de um brasileiro  - Seiiti Arata - que esteve no dia histórico na Estônia (o depoimento na íntegra com o vídeo feito por ele encontra-se aqui). Confira outros trechos:
          Reflexões sobre minha experiência
          Minha namorada estava certa em dizer que essa seria uma ótima lição de humildade e gratidão. Vou tentar colocar em palavras como a experiência foi rica, mas já sei que é uma tarefa impossível.
          Esse tipo de atividade deve ser vivido em primeira pessoa: a mera tentativa de relatar ou narrar, combinada com a tentativa de ler e compreender já compromete muito do significado. Mas vamos lá.
          1. Podemos trabalhar com uma motivação além do interesse pessoal
          Sou um cara muito ocupado. Deixo meus telefones desligados por padrão, assim como email e Skype sempre fechados. Dedico apenas uma hora do meu dia para multitasking (telefonemas, email, pendências gerais) e todo o resto é aplicado em atividades estratégicas de criação de livros e programas de coaching. Sempre que aparece algum compromisso novo, eu geralmente recuso, para ficar plenamente focado no meu trabalho.
          Apesar de ter um amor enorme pelos meus pais e muitos bons amigos espalhados no mundo inteiro, reduzi o tempo de interação com todos para algo por volta de uma hora por semana. Gostaria de dedicar mais, porém decidi que este ano darei prioridade ao crescimento de minhas empresas. Outras dimensões de minha vida que tenho como prioridade são minha saúde (academia três vezes por semana, cozinhar em casa) e relacionamento de qualidade com minha namorada.
          Num contexto desse, em que espremo cada minuto precioso do meu dia para alcançar mais produtividade, não parece ser muito lógico ter dedicado três horas de um final de semana para ficar limpando lixo que outros caras jogaram no meio do mato. Mas esse tipo de atividade, feita sem qualquer interesse pessoal e em benefício coletivo, tem um significado muito especial. É o tipo de nutriente emocional, quase espiritual, que nos faz ter orgulho de fazer parte da sociedade. Ficamos despertos, aterrados.
          Foram apenas três horas do meu dia, e gastei um pouco mais de cinquenta reais comprando botas de plástico e luvas de jardinagem para evitar cortar meus dedos durante a atividade. Um sacrifício mínimo, porém muito valioso.
          Recomendo a todos. Dedicar o próprio tempo e energia para o benefício coletivo é algo muito bom.
          2. Oferecer cria felicidade
          Vou contar a verdade agora. Quando minha namorada me convidou para essa atividade, eu não tinha a menor idéia do que seria. Estava muito ocupado trabalhando e não tive a curiosidade de investigar os sites que indiquei aqui no post. Em outras palavras, eu estava vivendo como um zumbi desconectado das coisas ao meu redor. Quando saímos de casa, eu estava com meus pensamentos voltados ao que eu gostaria de fazer assim que voltasse pra casa.
          Não tinha nenhuma expectativa com relação a essa atividade, que estava julgando ser uma perda de tempo. Minto. Havia uma coisa que eu estava imaginando que seria positiva: carregar peso. Desse jeito, eu poderia poupar um dia de academia, já que a atividade seria bastante cansativa.
Não fico muito envergonhado em admitir esse meu egoísmo inicial. Dizem que uma das primeiras palavras que um bebê aprende a falar é “meu”. Mas é sabido que a gente obtém maior satisfação ao dar, e não ao receber. Se por um lado eu saí de casa meio resmungão, posso assegurar que retornei muito feliz. Valeu demais.
          3. Limpar merda é o melhor jeito de parar de fazer merda
          Outra confissão. Já teve épocas que eu joguei lixo pela rua ou pela estrada e nem pensava em qual seria a consequência. Fui meio “mano” quando era adolescente.
          Lembro de uma vez que tinha ido jogar fliperama do Dungeons & Dragons II Shadow of Mystara em fliperama, que só tinha no outro lado da cidade, no Shopping Matarazzo. E joguei uma latinha de refrigerante na rua. Um outro “mano” meu ficou indignado. O diálogo, que me recordo até hoje, foi mais ou menos assim:
          –Ô mano, vai jogar latinha no chão, porra?

          –Ah mano, não moro nesse bairro mesmo. Foda-se.
          Olha que atitude mais acefálica. Anos depois desse acontecimento, tinha evoluído um pouco e já não tinha mais esse tipo de atitude. Não faço mais parte do grupo que joga latinhas fora do lixo.
          No entanto, mesmo na vida adulta e madura, confesso que quando eu arremessava um papel em uma lixeira… e o vento atrapalhava minha pontaria de Michael Jordan, aconteceu de eu não voltar o meu percurso para pegar o papelzinho do chão. Como eu não fumo, não jogo bitucas de cigarro pelo caminho. Mas, se eu fumasse, acho que minha postura relaxada poderia perfeitamente me enquadrar no grupo das pessoas que contribuiu com as centenas de bitucas que eu recolhi ao longo da estrada.
Depois dessa experiência, posso dizer que tenho uma nova postura com relação a viver de forma educada e com respeito.
          E no Brasil?
          Não me estranharia encontrar alguns pessimistas e derrotistas soltando pérolas do tipo:
          “Ih, deixa de ser sonhador. No Brasil isso não funciona. Madame não recolhe nem merda de cachorro, quem dirá de lixo no meio do mato.”
          “Não vou limpar sujeira feita pelos outros. Tá faltando é educação pra esse povo imundo. Deviam responsabilizar as empresas que criam embalagens que não são biodegradáveis.”
          “É o governo que tem que fazer isso, afinal de contas eu pago imposto pra quê? São todos corruptos, vamos colocar os políticos pra trabalhar. Se a gente começa a limpar, daí que o governo não faz nada mesmo.”
          “Funcionou na Estônia porque é um país pequeno. O Brasil é muito grande pra fazer uma coisa dessa proporção.”
          “Certeza que na véspera de uma limpeza coletiva no Brasil as indústrias vão jogar tudo no mato, já que sabem que vai aparecer otário para limpar.”

          Será mesmo?
          Fico muito feliz em ver que no Brasil temos uma iniciativa local e deixo aqui o convite para conhecer mais e ajudar a espalhar a mensagem: Limpa Brasil.
O projeto está caminhando bem e na primeira fase já será realizado em sete grandes cidades brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Goiânia, Campinas e Guarulhos a partir do mês de junho de 2011.
          Vamos mostrar que a gente consegue fazer acontecer. Apenas a experiência adquirida com a mobilização de cidadãos brasileiros por uma causa coletiva é um grande benefício, pois as redes de contatos e cultura criada com essa iniciativa poderão fomentar muitas outras iniciativas para o bem coletivo no futuro.
Seiiti Arata Jr. é fundador da Arata Academy.
 ***
 Saiba como mapear os pontos de lixo na sua cidade!
Para ajudar a colocar conteúdo nessa imensidão de Brasil
Entre no site www.limpabrasil.com
Seja um voluntário: inscreva-se!

          No Brasil, dada a dimensão territorial e as diferenças culturais com os países que já receberam o projeto, o Let’s do it terá um novo formato. Sete cidades, e não apenas uma, receberão a ação: Rio de Janeiro, Brasília, Campinas, Guarulhos, Goiânia, São Paulo e Belo Horizonte. Algumas delas, em dois dias diferentes. “Não faremos em mais cidades por falta de apoio de algumas prefeituras”, afirma Marta Rocha, fundadora da Atitude Brasil, empresa que coordena o Limpa Brasil Let’s do it.
          Também diferentemente de outros países, o projeto brasileiro terá duração de dez anos, com eventos bianuais. “A questão no Brasil não é limpar em um único dia. É educar. Mudar o paradigma”, explica Tião Santos, que coordenará toda a logística de destinação do material coletado às cooperativas. Segundo Tião, 40% dos resíduos gerados no Brasil são potencialmente recicláveis. Apenas 1% de fato é reciclado – e este 1% já gera 1,2 milhão de empregos para catadores em todo o país.
Tião Santos, catador e coordenador de logística do Limpa Brasil.
          O primeiro evento no Brasil já aconteceu em Brasília, nos dias 3 e 4 de junho. Em seguida, será levado às cidades do Rio de Janeiro, Guarulhos, São Paulo, Goiânia, Campinas e Belo Horizonte. No site do Limpa Brasil, os interessados em participar como voluntários já podem fazer seu cadastro. Nesta etapa, é possível detalhar o perfil do participante e de que forma gostaria de atuar: mobilizando os moradores de seu prédio, rua ou bairro; na divulgação, logística, organização ou no próprio dia da ação.
          Os participantes também poderão dar outra valiosa contribuição: enviar fotos ou vídeos de locais nos quais o lixo foi descartado irregularmente. As informações servirão de base aos organizadores do projeto para definir quais regiões das cidades contarão, no dia da ação, com um “ecoponto”.
          O “ecoponto” será o local onde os catadores receberão os materiais recicláveis e não recicláveis recolhidos pelos moradores dos bairros. No dia da ação, todos os resíduos passíveis de reciclagem serão destinados às cooperativas mais próximas do local, previamente cadastradas. O número de “ecopontos” variará de uma cidade para outra. O Rio de Janeiro terá, pelo menos, 30 pontos. Espera-se que, em cada município, o Limpa Brasil tenha a participação de aproximadamente 1% da população.

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