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12 de novembro de 2011

Carta da Velha Mansão do Alto da Boa Vista

Rio de Janeiro, 23 de Outubro de 2011
          Cara Senhora Cachoeira da Cascatinha,
          Com certeza a senhora não me conhece, então apresentar-me-ei: sou a Velha Mansão construída no século XIX, sua vizinha. Localizo-me à rua Boa Vista, nº 85, e ocupo uma área construída em 1200m². Contudo, a área pertencente a minha propriedade é de 30.000m².
          Já fui uma nobre residência nos áureos tempos do café, porém hoje estou em péssimo estado. Diria mesmo que de total abandono.
          Dizem os senhores especuladores imobiliários de plantão, que o meu valor está em torno de 30.000 milhões de euros. Veja só que incoerência! Tenho a aparência de uma necessitada que vive passando contínuas privações.
          Bem, em verdade, escrevo-lhe para fazê-la saber da grande admiração que tenho pela senhora. Além disso, queria dizer o quanto me emociona a alegria que durante muitos anos o senhor Visconde de Taunay desfrutou de sua fascinante e bela companhia.
          Eu não a conheço pessoalmente, mas através de pinturas, gravuras e fotos que os meus antigos proprietários e visitantes traziam, inclusive as do senhor Rugendas, tive o prazer de contemplá-la e até mesmo compreender os comentários a respeito da beleza de suas quedas d’água.
          No silêncio da noite, ouço a correria de suas águas passarem num córrego próximo, e por elas gostaria de mandar-lhe lembranças, mas elas não retornaram mais...
          Assim, sem saber da sorte que no futuro espera-me, parabenizo-me por estar vivendo esses longos séculos, próximo de uma senhora tão nobre e bela, e saúdo-lhe pela graça e pelo poder de contínua renovação da vida que lhe foi outorgado pela Mãe Natureza.
                                                                  Minhas sinceras congratulações,
                                                                                                         Velha Mansão
P.S. - Envio-lhe duas fotos minhas e uma imagem sua que guardo em minha memória.
Cascatinha, por Johann Moritz Rugendas (1822)
 Texto escrito por Maria Cristina Cezar Machado

Um comentário:

  1. Uma linda carta com uma triste verdade. Enquanto a especulação imobiliária não se apoderar de todos os casarões das encostas do Alto da Boa Vista, transformando-os em condomínios fechados e impenetráveis, poderemos usufruir das belezas da Mãe Natureza.

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