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19 de novembro de 2012

Por onde ecoa a dor dos Guaranis Kaiowás

Marcia Fernandes
Impossível ficar neutro com o que vem ocorrendo com os indígenas brasileiros. Só em 2011 foram 56 conflitos (os registrados, pela Comissão Pastoral da Terra) em 16 estados, com 101 indígenas mortos, a maioria líderes de etnias. Há 48 registros de ameaças de morte (dados do CIMI). E o caso mais grave é da etnia Guarani-kaiowá e Nandevá. São 170 índígenas da comunidade de Pyelito Kue Mbrakay, habitantes das margens do rio Hovy que lutam por 2 hectares de terra numa fazenda de 700 hectares no Mato Grosso. 

Sem justiça, passando fome, sem dignidade, sendo ameaçados e mortos (há inclusive testemunho de uma jovem indígena estuprada por pistoleiros), se suicidando por falta de opção de vida já que lhes vem sendo negado o direito de ficar na terra em que seus ancestrais estão enterrados há séculos. Em desespero, anunciaram um suicídio coletivo em uma carta que pediam à Justiça Brasileira para decretar sua morte, dizimação e extinção total.

A carta ganhou o Brasil e o Mundo. E a coisa explodiu, mas a luta dos Guaranis Kaiowás é travada desde 1978. Assim como outras etnias como é o caso dos Pataxós na Bahia. Mas infelizmente as coisas só tomam projeção quando atravessam as fronteiras do país. Aí você pergunta. O que eu posso fazer? O que podemos fazer para ajudar os Guaranis Kaiowás e outras etnias é aproveitar as Redes Sociais para divulgar a falta de dignidade, o abuso, os crimes, a falta de respeitos aos povos originários. Foi na rede que a carta dos Guaranis Kaiowás foi amplamente divulgada e lida. 

Foram a projeção e a força da mídia nos cantos do mundo que mobilizaram a Justiça Brasileira, a secretaria dos Direitos Humanos, o ministro da Justiça a ouvirem o grito dos Kaiowás. E a começarem a fazer o que já deveria ter sido feito há muito tempo. Os que se consideram os donos da terra (fazendeiros) insistem que a terra os pertence. A soja, e a cana de açúcar são mais produtivas e importantes. Afinal, o Mato Grosso é o estado do agronegócio, modelo para o Brasil todo, mas modelo também de violência indígena. Para saírem das terras, os fazendeiros exigem que lhes sejam pago uma indenização pelas benfeitorias e pelo valor que a terra alcançou. E como opção sugerem que seja dado aos indígenas as terras da União que somam 200 mil hectares. Enfim! Quem quer perder? Mas essa é uma guerra perigosa, profunda e só quem perde e morre são os indígenas. Uma guerra que só explodiu para o mundo e fez com que milhares de pessoas pelas Redes se declarassem pelos Guaranis Kaiowás diante do prenúncio de seu suicídio coletivo.

Este artigo tem como objetivo pedir que acompanhemos os acontecimentos e que tenhamos o discernimento de ler as notícias por lentes diferentes das dos meios de comunicação dominantes que mostram e divulgam só o que desejam que saibamos. Ajudemos divulgando em nossas páginas a ferida que sangra nesse momento que é a dos Kaiowás, mas nos coloquemos vigilantes para essa ferida que é muito mais profunda e atinge uma séria questão no Brasil há mais de 500 anos: a questão latifundiária e a demarcação das terras indígenas. Palavras como Território, Territorialidade, Homologação, Reforma, Questão Fundiária e Oliguarquias Rurais ganham maior peso quando acompanhadas de mortes, suicídios, negação de direitos, entre outras questões. A coisa é muito séria. Fiquemos de olhos bem abertos!
Ontem foi o Dia Nacional em Defesa ao povo Guarani Kaiowá. Em várias cidades do Brasil aconteceram protestos e abraços ao povo guarani. Participei da passeata com o grupo da Aldeia Maracanã que reivindica a não demolição do Antigo Museu do Índio e denuncia as demolições no entorno do Maracanã, como a Escola Municipal Friedenreich e o Parque Aquático Julio Delamare. Que governo é esse que não respeita a Escola, o Esporte e a Cultura Indígena como direitos dos cidadãos?

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