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8 de dezembro de 2012

Da estação de Mesquita à rua Mariz e Barros: um destino

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Roberta de Carvalho Pacheco
          De segunda a sexta, eu acordo cedo e vou para a faculdade. Estudo no Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro, na Praça da Bandeira e moro em Mesquita, na Baixada Fluminense. Durante o meu trajeto à faculdade, eu tomo conta desse meu mundo.
Fonte: Wikipedia
          Acordo às 5 horas da manhã. Tomo meu banho e meu café. Saio de casa  e vou para o ponto de ônibus há alguns metros de minha casa. Pego o ônibus Austin-Pavuna e me dirijo para a estação de trem de Agostinho Porto. Faço isso para pegar o trem e voltar para a estação terminal de Belford Roxo e fazer a viagem sentada. 
          Dentro do trem, vejo as pessoas com vários tipos de fisionomia: alegres, tristes, cansadas e principalmente sonolentas. (Eu me incluo neste último tipo). Como o tempo de viagem é em média de 50 minutos, muitos aproveitam e cochilam durante o caminho. Outros aproveitam para colocar a conversa em dia sobre os assuntos do momento: o jogo de futebol, o capítulo da novela, a rotina do trabalho… Outros aproveitam a viagem para jogar carta ou até para fazer uma festa de aniversário. Também existem aqueles que gostam de ler (eu sou uma delas), mas há aqueles que só fazem reclamar da vida. E nesta hora, nada melhor do que ter o seu fone de ouvido e escutar uma música para passar o tempo. Pelo menos é o que eu faço.
        E com isso tudo a viagem de trem vai acontecendo. Algumas estações de trem têm características específicas. Na da Pavuna, por exemplo, como ela faz integração com o Metrô, descem muitos passageiros. Até chegar a Estação de Madureira, da onde se pode ver o Parque Madureira inaugurado recentemente.
          Outra estação de destaque é a de Del Castilho próxima da Catedral Mundial da Fé, do Shopping Nova América e do Supermercado Walmart. Depois, tem a estação do Jacarezinho, onde há pouco tempo podíamos ver usuários de drogas na beirada da linha do trem. Mas atualmente não vejo esta cena por causa da operação de pacificação que ocorreu nesta comunidade.
          Logo em seguida tem a estação de Triagem, onde muitos passageiros também descem e é quando o vagão fica um pouco mais vazio.
          Enfim, a próxima estação é a de São Cristóvão. A estação que eu desço, além de ser uma das maiores, ao redor dela há muitas passagens, como a Quinta da Boa Vista, o Hospital Quinta d’Or, o prédio da Petrobras e mais ao longe o Estádio do Maracanã e a UERJ. 
Fonte: NotíciasR7
          Desço nesta estação. Subo as escadas, passo pelas roletas, atravesso a passarela próxima à Radial Oeste, caminho pela rua Senador Furtado até a Mariz e Barros. Na esquina, fica a lanchonete A Normalista e de manhã sempre tem um vendedor de flores. Quando eu o vejo, tenho a certeza que cheguei ao meu destino.
Fonte: Fulgas
***
A FLOR E A NÁUSEA
Preso à minha classe e a algumas roupas,
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.


Carlos Drummond de Andrade (Rosa do Povo, 1943-1945)

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