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9 de abril de 2015

Os intermediários - os lugares sob a lente fotográfica de uma criança - Parte 2

                                                                                                           Márcia Fernandes
          O que busca uma criança quando mira uma câmera? É muito mais do que uma imagem; é um momento em que eles se tornam autores do próprio percurso, seja ele mágico, doce ou trágico.
        O percurso de Molhen  Bakarat era trágico, mas ele o fez mesmo assim.
        Mas quem foi Molhen  Bakarat?  Sua identidade foi revelada depois de sua morte, em Alepo, Síria, em meio a um conflito de guerra, na semana de Natal de 2013.
       Bakarat entrou para o fotojornalismo, valendo-se de uma oportunidade ou por falta dela. Podia escolher entre ser um homem-bomba em seu país ou aproveitar a facilidade em transitar  nos becos de Alepo. Não sendo aceito pelo seu Estado  para ser um homem bomba, por ser um adolescente "moderno", de acordo com os costumes culturais exigidos para a função, e podendo ir a lugares que somente a população local poderia chegar, entrou para o fotojornalismo.
          Retratava o cotidiano da população, os momentos de desespero, desolação, de  alegria fugaz  e de intimidade, tudo o que somente a convivência compartilhada propicia. Fotograva com sensibilidade e liberdade.
          Com apenas 17 anos, se tornou fotógrafo de guerra, testemunha e vítima. Um jovem pertencente à população local, como tantas outras crianças, que se tornou uma opção, uma salvação para os  jornalistas ocidentais  que embarcavam nessa aventura arriscada de cobrir os conflitos na Síria.
      Bakarat era um garoto comum: gostava de Kate Perry, usava  jeans  e camiseta e  um estiloso  casaco com brasão da Grã-Bretanha.  Sua  foto de perfil no  Facebook  era a de um menino. Parecia feliz com um largo sorriso no rosto.
      Vendeu fotos que renderam milhões para a Reuters. Por 15 fotos, ganhava pouco mais que 100 dólares. Morreu sem capacete e sem colete à prova de balas. A agência de notícias Reuters noticiou a sua morte, mas não revelou a sua idade. Por que?
     Molhen foi salvo de se tornar um terrorista?  Mas morreu pelo terror, por diferentes pesos, mas pelas mesmas medidas. O seu percurso foi curto, mas intenso.
     A guerra continuará, mas a maneira como jovens, crianças que por estarem e fazerem parte da zona de perigo são tratadas como peças de um jogo de xadrez fotográfico, devem ser questionadas.
Molhen e a fotografia, o perigoso percurso do conflito.
          Para nós resta a lembrança; para a Reuters, uma nota: “A segurança de nossos jornalistas, sejam eles funcionários ou freelancers, é primordial…” SERÁ? Com certeza, não. Sem identidade revelada, sem idade divulgada. ( Cf. http://revistazum.com.br/colunistas/sangue-novo-na-guerra/)