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6 de maio de 2015

Um lugar bonito no meio de um lugar feio1 - Trilha pelo Morro do Céu

Patrícia Pagu
          Era uma vez uma região entre o Grajaú e Nova Iguaçu, que foi dada de presente à um camarista. Esse camarista, cujo nome era Meyer[1], separou parte das suas terras, entre Lins de Vasconcelos e Água Santa, e distribuiu aos negros alforriados da cidade do Rio de Janeiro.
          Essa grande fazenda com terras abundantes se transformou então numa espécie de quilombo legalizado e, sendo muito rico em mananciais de águas cristalinas, acabou chamando atenção de outros nobres cidadãos.
          Bem distante dos escravos, em uma época de homens livres, se fez a urbanização... E, sem escolas e sem saneamento, a região da Boca do Mato cresceu e se favelizou.
          Ali foram educados Martinho da Vila e Luiz Carlos Prestes. Ali, terra de muitos sambas, nasceu a Lins Imperial, rainha de grandes carnavais mas, longe dos serviços do Estado, o lugar ficou sitiado, entregue às drogas e à violência.
Em 27/11/1935, no Jornal da Manhã, o levante da Aliança Nacional Libertadora, a Intentona Comunista, no Rio de Janeiro.
Martinho da Vila em 1967: sargento e sambista.

          A cultura do descaso trouxe o lixo e a poluição, e os riachos e cachoeiras agora são imensas valas negras, matando a comunidade de preocupação.
          Depois de tantas mortes e torturas, depois de tantos relatos de amarguras, eis que chega a "pacificação" que, na verdade, só trouxe especulação. Trocou-se o gatonet pela "Sky", mas segurança, só se for no asfalto pois, no morro, continua o mesmo descaso.
          Ali, policiais esculacham a população mas, no fundo, são filhos da mesma opressão. Nessa serra vistosa, conhecida como dos Pretos Forros, poluída e negra, tal qual capitães-do-mato, treinados com descaso, eles caçam e caçam para mostrar serviço.

Site oficial das Unidades Policiais de Pacificação (UPP)
          A serra dos Pretos Forros continua lá, mais suja e menos livre. Mudou muito mas, para muitos, ela é um lar.  Oh Boca do Mato, sempre escondida dos cartões postais, és o retrato da segregação. Rio de Janeiro dos invisíveis, 450 anos de abandono!
Nota
1- Trata-se de Augusto Duque Estrada Meyer (pronunciava-se Máier), conhecido como o Camarista do Paço, um nobre que servia Pedro II em seus aposentos. Infelizmente não encontramos nenhuma imagem que o retratasse.
2 -  As fotos sem legenda foram tiradas pela autora.